O surgimento da
Nouvelle Vague Francesa abriu espaço para redefinir a linguagem cinematográfica
em voga, até então. Foi uma abertura de redefinição estética radical.
- “É consenso que a rede de filmes, artigos e cineclubes da
Nouvelle Vague tenha criado condições para um momento de redefinição radical de
padrões e maneiras de filmar e – também – compreender cinema”.
- "Esse novo olhar e maneira de se fazer cinema desencadeada
pelos jovens turcos “afirmou, no âmbito local, a ruptura com o cinema de estúdios
francês e, no plano da história das formas, a consciência avançada da
representação. (...). Laboratório por excelência de uma ESTÉTICA DO FRAGMENTO,
da incorporação do ACASO DA FILMAGEM, da polifonia narrativa e de uso de formas
até então atribuídas ao documentário, às Artes Visuais, ao ensaio e à
Literatura, a Nouvelle Vague fez chegar ao cinema (...) uma observação
autocrítica dos imaginários urbanos, antropologia radical oposta à vocação de ‘vulgaridade
e comércio’ do cinema e das mitologias da sociedade de consumo."
- "(...) a Nouvelle Vague acabou por sintetizar uma original
incorporação crítica da cultura material e imaterial ao redor, da cultura atual
e dos museus. (...) A Nouvelle Vague foi um movimento de juventude,
protagonizado por uma geração que começou a escrever e fazer filmes quase
adolescente, com a responsabilidade política dos ‘vinte e poucos anos’, mas com
um raro acumulo cultural para jovens dessa idade."
- "Uma das mais vigorosas ideias da Nouvelle Vague foi
considerar o museu, a cinemateca, como locus
privilegiado para o processo criativo de um filme. Uma ideia transformadora,
porque até então, o cinema era pensado em repartições (estúdios) e com base em
uma noção de linguagem sem tradição."
- "A Nouvelle Vague foi o primeiro movimento cinematográfico
produzido com base em um interesse pela memória do cinema. Foi esse acesso a
tal tradição que permitiu nascer, nos artigos dos futuros cineastas, a ideia
cara – e clara – de RUPTURA, de novidade a afirmar."
- "Na verdade o interesse pelos autores americanos – pedra de
toque da ‘política dos autores’ dos jovens críticos – seria muitas vezes
mediado pelos valores e conceitos da arte moderna: a DESCONTINUIDADE, a
incorporação do ACASO e da realidade documental, a valorização da montagem."
- "Os artigos que Truffaut e Godard escrevem têm duas frentes:
a recusa do que é produzido na França (salvo raras exceções) e o cinema
americano como foco privilegiado para a BUSCA DE AUTORES que, de certa forma, DRIBLAM
O SISTEMA E SE IMPÕEM COMO ARTISTAS coerentes, capazes de CONSTRUIR UMA
ESCRITURA. Não por acaso, a noção de estilo será muito mais importante para a
Nouvelle vague que para André Bazin e as gerações críticas anteriores."
- "O autodidatismo, a eleição de um novo espaço de difusão do
saber – o cinema – e a aposta no cineclubismo com ‘escola’ explicitam o modo de
agir de Bazin: tanto sua preferencia pelo ensaio como a forma da escrita e as
diferenças com as exigências do mundo acadêmico.”
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MANEVY,
Alfredo – Nouvelle Vague, P: 221-233, in: MASCARELLO, Fernando (org) - Historia
do Cinema Mundial, Campinas, SP: Papirus, 2006 – (Coleção Campo Imagético).