- o argumento de Truffaut contra as adaptações (literárias
para o cinema) consistia em afirmar que os diretores de cinema se tornavam
meros funcionários dos roteiristas, vitimas da ditadura da dramaturgia,
verificando aí uma atitude protocolar e subserviente diante do potencial do
estilo. Para a geração da Nouvelle Vague,
é a mise-em-scène a grande expressão,
o espaço de autenticidade, o espaço dos autores.
- Os jovens artistas da Nouvelle Vague admiravam o cineasta
italiano do neo-realismo Roberto Rossellini, este acreditava na filmagem como
investigação que parte de uma página em branco e só termina na montagem, que
traz suas próprias revelações.
- sobre a montagem de O ACOSSADO, primeiro filme de Jean-Luc
Godard: a historia é trágica, mas a câmera é autônoma e independente dos
personagens e até do drama, revelando cartazes de filmes que funcionam como
comentários brincalhões ou fatalistas sobre o destino de ‘Michael’. Mais que
revelar dois personagens interessantes, a novidade de ‘Acossado’ é o modo de
filmar lúdico, heterogêneo, devedor de muitos gêneros culturais, da poesia à
entrevista televisiva, sem pretensões ilusionistas. Um filme que se permite a
homenagem, o comentário, o esforço poético e o espirito de ensaio e discussões
sobre questões da atualidade.
- características gerais encontrados nos trabalhos
individuais de filmes da Nouvelle Vague: noção de identidade/ locações externas
para realizar a trama (normalmente locais frequentados pelos realizadores) isso
explicita uma outra concepção de espaço, historicidade, de relação com a realidade
imediata e documental; (com isso os jovens cineastas inauguram a entrada de
novos equipamentos para dar conta das gravações externas: uso do Nagra e
câmeras de documentários/ deslocamento do roteiro para privilegiar a mise-em-scène/ montagem ágil, conceitual
e moderna/ inclusão de outros tipos de linguagem artística para ajudar a contar
a trama: quadrinhos, jornais, programas televisivos (o prenuncio da
metalinguagem como recurso lúdico-narrativo)/ voz em off/ lembrete a todo
instante de que o filme é um filme (não há fuga da realidade)/ linguagem
coloquial/ atores (atrizes jovens e desconhecidos)
“recuperar a sensação da infância exige, contraditoriamente,
tornar os procedimentos mais adultos, radicais e estranhos. É preciso recriar a
inocência perdida, ‘limpar o olhar’, do espectador, pela descontinuidade da
narração. É preciso amadurecer, para tornar-se genuinamente jovem.”
- a herança da Nouvelle Vague são aproveitados e utilizados,
mas isoladamente, sem o contexto, as bases e a coerência de projeto que os
unia. Os principais cineastas de Hollywood gostam de citar o movimento e
cineastas independentes de todo o mundo reverenciam a onda francesa dos anos
1960 e, com o surgimento das universidades de cinema, completou-se o processo
de canonização da Nouvelle Vague.
- mas a reedição da Nouvelle Vague é uma assombração improdutiva:
o que podemos depreender dessa bela trajetória é que cada geração deve procurar
ou inventar sua tradição e sua inocência, mas a reflexividade que permeou
aquela geração é cada dia menos descartável.
MANEVY,
Alfredo – cap. 'Nouvelle Vague', P: 233-252, in: MASCARELLO, Fernando (org) - Historia
do Cinema Mundial, Campinas, SP: Papirus, 2006 – (Coleção Campo Imagético).
Nenhum comentário:
Postar um comentário