domingo, 23 de dezembro de 2012

FICHARIO - 2: ASPECTOS DA NOUVELLE VAGUE (*relacionados ao elemento surpresa, ainda em pesquisa)

- a corrente Nouvelle Vague aposta num estilo, na consciência do cinema como aparato, uma recusa da fidelidade a processos mentais contínuos.

- o argumento de Truffaut contra as adaptações (literárias para o cinema) consistia em afirmar que os diretores de cinema se tornavam meros funcionários dos roteiristas, vitimas da ditadura da dramaturgia, verificando aí uma atitude protocolar e subserviente diante do potencial do estilo. Para a geração da Nouvelle Vague, é a mise-em-scène a grande expressão, o espaço de autenticidade, o espaço dos autores.

- Os jovens artistas da Nouvelle Vague admiravam o cineasta italiano do neo-realismo Roberto Rossellini, este acreditava na filmagem como investigação que parte de uma página em branco e só termina na montagem, que traz suas próprias revelações.

- sobre a montagem de O ACOSSADO, primeiro filme de Jean-Luc Godard: a historia é trágica, mas a câmera é autônoma e independente dos personagens e até do drama, revelando cartazes de filmes que funcionam como comentários brincalhões ou fatalistas sobre o destino de ‘Michael’. Mais que revelar dois personagens interessantes, a novidade de ‘Acossado’ é o modo de filmar lúdico, heterogêneo, devedor de muitos gêneros culturais, da poesia à entrevista televisiva, sem pretensões ilusionistas. Um filme que se permite a homenagem, o comentário, o esforço poético e o espirito de ensaio e discussões sobre questões da atualidade.

- características gerais encontrados nos trabalhos individuais de filmes da Nouvelle Vague: noção de identidade/ locações externas para realizar a trama (normalmente locais frequentados pelos realizadores) isso explicita uma outra concepção de espaço, historicidade, de relação com a realidade imediata e documental; (com isso os jovens cineastas inauguram a entrada de novos equipamentos para dar conta das gravações externas: uso do Nagra e câmeras de documentários/ deslocamento do roteiro para privilegiar a mise-em-scène/ montagem ágil, conceitual e moderna/ inclusão de outros tipos de linguagem artística para ajudar a contar a trama: quadrinhos, jornais, programas televisivos (o prenuncio da metalinguagem como recurso lúdico-narrativo)/ voz em off/ lembrete a todo instante de que o filme é um filme (não há fuga da realidade)/ linguagem coloquial/ atores (atrizes jovens e desconhecidos)

“recuperar a sensação da infância exige, contraditoriamente, tornar os procedimentos mais adultos, radicais e estranhos. É preciso recriar a inocência perdida, ‘limpar o olhar’, do espectador, pela descontinuidade da narração. É preciso amadurecer, para tornar-se genuinamente jovem.”

- a herança da Nouvelle Vague são aproveitados e utilizados, mas isoladamente, sem o contexto, as bases e a coerência de projeto que os unia. Os principais cineastas de Hollywood gostam de citar o movimento e cineastas independentes de todo o mundo reverenciam a onda francesa dos anos 1960 e, com o surgimento das universidades de cinema, completou-se o processo de canonização da Nouvelle Vague.

- mas a reedição da Nouvelle Vague é uma assombração improdutiva: o que podemos depreender dessa bela trajetória é que cada geração deve procurar ou inventar sua tradição e sua inocência, mas a reflexividade que permeou aquela geração é cada dia menos descartável.
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MANEVY, Alfredo – cap. 'Nouvelle Vague', P: 233-252, in: MASCARELLO, Fernando (org) - Historia do Cinema Mundial, Campinas, SP: Papirus, 2006 – (Coleção Campo Imagético). 

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