O cigarro é o melhor amigo do homem... não péra, tem outra
impressão mais adequada: tudo fica bem depois de uma trago de cigarro; aliás,
após vários maços acesos. O mais delicioso alimento pela manhã é uísque sem
gelo, no almoço: com gelo; no jantar: o coma alcoólico. A ansiedade e solidão afogados
no cigarro e bebedeira... o cigarro é o companheiro para todas as horas. Eu não
como, eu fumo... o cigarro é o melhor amigo do uísque. O uísque é o melhor
amigo da angustia. A angustia é a melhor companhia para o cigarro. O cigarro é
o melhor conselheiro. Acordar e dormir baganas. A hidratação do corpo com o álcool
(e não com água) faz sentir o ar mais puro das baganas acesas... Eu não penso,
eu fumo. Não durma, beba até desmaiar... Nas veias: fumaça; no cérebro: uísque.
Nos olhos: tristeza. Na mente: cigarros. Cafezinho preto aqui é pinto...
Meu incomodo maior ao assistir o filme MILLENNIUM MAMBO, (Taiwan/Japão, 2001),
dirigido pelo tailandês Hou Hsiao Hsien, nem foi o elevado índice de solidão,
vazio existencial, falta de perspectivas, incomunicabilidade, etc. retratados às
pitadas no filme, e sim as milhares cenas de pessoas (jovens em sua maioria)
estragando deliberadamente seus pulmões tragando cigarros e mais cigarros. Talvez
por eu ser asmática desde sempre, eu me desespere um pouquinho vendo pessoas "(auto)adoecendo-se" com o fumo (mesmo na ficção). A protagonista fumava sem parar. Esses
detalhes comportamentais que cercam as personagens são excelentes subsídios para
demonstrar o grau psicológico delas dentro da trama. Achei muito bem construído.
Demorei três dias para concluir este filme de uma hora e quarenta, essas cenas
me deixavam um pouco mal. Dava pausa no Play, e vasão à minha hiperatividade;
depois de horas retornava ao filme.
Sem muitos diálogos, a estória revela-se pelo puro comportamento
das personagens socadas em seus mundos sem perspectivas, reforçada pelos closes
e poucos planos conjuntos, trazendo o visceral estado de fuga que cada um se
encontra. A juventude perdida em
prostituição, drogas, individualidades cercadas de eletroeletrônicos, diversões
fúteis, paraísos artificiais sonorizados pela sofisticada, impessoal e metálica
musica eletrônica (que eu simplesmente amei!), assinada por Giong Lim. Pessoas
juntas, porém desconectadas umas das outras. “Quando sair o sol, o homem de
neve derrete...”, mas será que no caso de ‘Vicky’ (Shu Qi), o sol algum dia sairá detrás das nuvens (de fumaça)? Sem noção de sua vida; sobre o quê fazer; para onde ir; o quê esperar, ‘Vicky’
caminha num túnel, indiferente ao que possa encontrar no final dele. A narrativa
impessoal e distante dos fatos pode ser um indicio que sim,’Vicky’ superou seu
estado juvenil de ansiedade(?).
A estória é narrada no futuro do presente(?) ou particípio-passado(?);
na verdade são lembranças acontecidas no ano de 2001 contadas pela protagonista
em 2011, como se alertando que o mal do século do novo milênio alavancaria ao
quadrado esta incomunicabilidade emocional da juventude à flor da pele, que é
retratada no filme. Tudo explode, implode. Vagueia. Esse aspecto atemporal das
imagens com a narração vinda de um suposto futuro também sugere a magia que o
cinema proporciona ao capturar o instante para encantar plateias que contemplam
o que não mais é. “Cinema é a arte da ausência”, já dizia prof. João de Jesus
Paes Loureiro.
Mas algo próprio e primaveril aos adolescentes continua
mantido e guardado mesmo em meio aos percalços na vida senil das personagens: a
ingênua esperança, que também é significada nas cores, neons e brilhos espalhados
no caos e escuridão que rodeia ‘Vicky’ e ‘Hao-hao’ (Tuan Chun-hao). Impressão
esta reforçada no final do filme com o trio de amigos correndo e brincando
pelas ruas vazias de Yubarí (Japão). Eles brincam e conversam até deixarem a
paisagem livre, quando uns pássaros aterrissam e voam indiferentes ao frio... subjetivando
que quem tem asas, voa... apenas voa.
Katiuscia de Sá
01 de dezembro de 2013, às 00:33h.
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*Excelentes textos sobre o filme:
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