quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

REGISTRO UM: direção

*Esse texto é referente à minha primeira experiência valendo como Diretora Cinematográfica.


Então, durante a trajetória do curta-metragem digital O Forasteiro, eu fui fazendo o filme de modo intuitivo, porém não às cegas. A adaptação do roteiro de um texto literário (de minha autoria) foi feito ainda sem eu ter total compreensão da linguagem especifica para roteiro de cinema, que é composto de suas formas, nomenclaturas e linguagens especificas para o suporte do cinema. Mas como um primeiro trabalho valendo, O Forasteiro serviu para eu perceber minhas potencialidades e também me harmonizar com esse novo suporte artístico que eu experimentava. A vivência serviu para eu aprender fazendo, experimentando, brincando, me divertindo. Uma coisa que compreendi é que fazer cinema é prazeroso, pois é quase como uma brincadeira de faz de contas, de nossa época de criança. Porém, uma brincadeira com regras, responsabilidade, organização e ação programada...

Por exemplo, eu esbocei algo muito superficial acerca do que denominam de “roteiro técnico”. Que na verdade tratava-se mais de um pequeno roteiro de ações pra mim mesma, posto que cumulativamente eu assinava o roteiro, Direção Cinematográfica e Direção de Fotografia, de modo que as indicações que eu dei ao cinegrafista foram mais sobre as minhas escolhas de enquadramento e ângulos a serem utilizados, não fiz algo em conjunto com o cinegrafista (que também assina a assistência de fotografia). Lembro-me que inúmeras vezes eu visitava as locações onde aconteceriam as filmagens, e me comportava como se meu olhar fosse a câmera enquadrando os pontos que eu queria. Não anotava nada, registrava tudo na memória fotográfica, e depois repassava ao cinegrafista.

Levei o operador de câmera em algumas dessas visitas, e expliquei-lhe meus objetivos, ele compreendeu bem, e também sugeriu alguns ângulos e enquadramentos. Confesso que fui receptiva (às vezes) mais aos ângulos do que aos enquadramentos propostos, pois eu estava sempre ao lado dele tal um “papagaio de pirata”, muito decidida em relação aos enquadramentos, para mim o equilíbrio entre os elementos na tela era fundamental para a estética do filme.

O que me ajudou muito mesmo foi meu conhecimento na área das Artes Plásticas (sempre desenhei e compus quadros), isso me ajudou a alcançar esse equilíbrio estético na composição do enquadramento, esse comportamento estendeu-se também para os campos da Direção de Arte e Cenografia quando expliquei as minhas intenções a quem assinou a Direção de Arte (Verônica Lima), ela compreendeu muito bem as intenções do filme, então criou o ambiente correspondente com muita eficácia.

Em relação a essa parte de criação, ainda nesse meu primeiro trabalho eu obedeci mais às minhas ansiedades do que a uma leitura coletiva da obra. Cedi mais à intensão de mexer no desfecho da trama, proposta pelo ator do filme (Thiago Losant), onde achei interessante o final inventado por ele.

No processo todo d’O Forasteiro, ficou muito nítido essa relação de “dirigir”, papel do Diretor Cinematográfico, ao mesmo tempo em que seu olhar deve ser macro, sua sensibilidade instantaneamente deve-se dedicar-se também ao micro, onde ele empresta seus talentos aos demais profissionais das diversas áreas, dando-lhes as indicações para que estes dialoguem com a obra, propondo sua visão especifica sobre o roteiro.

E para isso acontecer em satisfação de ambas as partes, o Diretor, sabiamente esboça as linhas gerais de sua ideia de realização do roteiro, e os profissionais dos departamentos irão recriá-lo conforme suas perspectivas. Sempre sabedores de que a essência do roteiro deve estar lá acima de qualquer preferencia pessoal. O Diretor deve deixar margem para a criação individual das pessoas que compõem os departamentos, desse modo eles também farão parte da obra. Compreendi isso um ano e meio depois desse processo. E pretendo pôr em pratica para meus próximos trabalhos, posto que o amadurecimento de um Diretor Cinematográfico renderá à sua obra a maior proximidade com a essência do filme que ele quer mostrar, ou seja, maior qualidade.

Acredito que a cada obra o cineasta aprende um pouco mais sobre essa engrenagem de fazer filmes. A “ferramenta” é comum e ao alcance de qualquer pessoa que deseja fazer filme, porém percebi que a “linguagem” e “abordagens” são mais profundas e refinadas. Para dinamizá-las ao Diretor exigem-se muitos conhecimentos de diversas áreas para que ele possa alcançar de fato, a harmonia entre forma e conteúdo cinematográfico. É um dialogo sussurrado pela obra de arte cinema, daí a dilatação do Diretor de suas capacidades perceptivas e de releitura das coisas, para traduzi-lo satisfatoriamente para este suporte.

Meu próximo registro será sobre roteiro. Espero em breve ter vontade para escrever e postar. Para quem quiser saber sobre os bastidores do curta mencionado, visite:


Katiuscia de Sá
28 de dezembro de 2011

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